sexta-feira, 31 de janeiro de 2014

A morte e o processo de luto na infância


Meu Primeiro Amor: a morte e o processo de luto na infância
Por Parcilene Fernandes
 Bacharel em Psicologia. Mestre em Ciência da Computação pela Universidade Federal de Santa Catarina - UFSC. Coordenadora e professora dos cursos de Sistemas de Informação e Ciência da Computação do CEULP/ULBRA. 
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O filme é apresentado através do olhar de Vada (Anna Chlumsky), uma menina de 11 anos que mora com o pai e uma avó doente em uma casa-funerária.  A estreia do filme foi em 1991, um ano após o sucesso estrondoso de Esqueceram de Mim, o filme que transformou o menino Macaulay Culkin em um astro da indústria do cinema, apesar de ter apenas 10 anos.
E esse fato ocasionou uma das questões mais inquietantes na época do lançamento do filme: como levar crianças ao cinema para assistir ao menino sensação do momento ser morto por picadas de abelhas? Na época, muitas discussões vieram à tona, com partipação de psicólogos e pais, sobre o quão um filme como esse poderia afetar as crianças.
Mas, há uma forma ideal de falar sobre a morte com crianças? Há alguma idade adequada para tratar de um assunto tão complexo? A percepção da morte de um adulto por uma criança é diferente da percepção que ela terá da morte de outra criança?
Talvez o grande erro de qualquer linha de raciocínio que busque responder a essas questões está na apresentação de respostas generalizadas, considerando crianças em dada faixa etária como se fossem um único bloco, como se cada bloco sentisse de uma forma semelhante.
Machado(2006) diz que a forma como uma criança vive o luto e faz uma representação interna da morte varia de acordo com a idade, a personalidade, o estágio de desenvolvimento cognitivo e psicossocial, a intensidade com que ela vivencia a situação (proximidade, por exemplo), e, ainda, com aspectos mais gerais que tem relação com a cultura em que está inserida.
A menina do filme, Vada, é uma criança solitária, que se sente culpada pela morte da mãe (que morreu devido a complicações no parto), que não sabe como lidar com os corpos que são embalsamados no porão de sua casa (onde funciona a funerária) e que tem como único amigo, um menino tímido chamado Thomas J. (Macaulay Culkin).



Tendo como base os estágios de desenvolvimento da criança propostos por Piaget, Torres (2002) diz “que a criança só concebe a morte como um fenômeno irreversível a partir do estágio das operações concretas, mais ou menos aos sete anos de idade”. E Machado (2006) acrescenta que “somente entre os nove e os doze anos, na transição da infância para a adolescência, que se interioriza a morte como um fenômeno universal, irreversível e comum a todos os seres vivos”.



Por ter dificuldade em lidar com a ideia da morte, apesar de viver em um ambiente onde essa temática está presente de forma profunda, Vada aparece constantemente no consultório de um médico da família, alegando que está com alguma doença incurável. O pai, que vive em um mundo à parte desde a morte da esposa, não percebe a solidão e o medo da filha, especialmente, a sua insegurança perante a finitude da vida. Uma vida cercada por doenças e perdas.


“Cerco-me de pessoas que acho intelectualmente estimulantes.” (Vada)

Thomas J., ao contrário dos adultos do filme, conhece a menina, entende a dor que ela sente, sabe até como a ideia da morte a atinge. Mas é pequeno demais para transformar tudo isso em palavras. Algumas crianças (como alguns adultos) são mais sensíveis a dor dos outros. Essa sensibilidade pode refletir em pequenos gestos de grande impacto.



A amizade entre os dois deu a Vada a oportunidade de ter uma infância mais feliz, mesmo que a tragédia que se seguiu tivesse força suficiente para transformá-la para sempre.
De todas as cenas do filme, a mais “fofa” é a volta do lago (depois do beijo embaixo do Salgueiro), quando Thomas J. tem coragem de mostrar seus sentimentos, mesmo depois que Vada disse que se casaria com o professor de literatura (Sr. Bixler).

Vada?
 O que é?
 Pensaria em mim?
 Para quê?
 Se não casar com o Sr. Bixler.
 Acho que sim.

As cenas que se seguem após esse último encontro fizeram muitos pais terem que explicar aos filhos, muitas vezes cercados por um contexto em que a morte parece ser uma realidade tão distante, que crianças também podem vir a morrer.
No início do filme, Vada rouba um dinheiro da maquiadora dos defuntos (que depois se torna noiva de seu pai) para fazer um curso de poesia com o prof. Bixler. No entanto, sua primeira tentativa de fazer um poema resultou em um verso sobre sorvetes. Então, o professor sugeriu que ela tentasse se expressar através de sua alma, não apenas através de coisas concretas e cotidianas.  Somente ao final do filme, depois de alguns dias da morte do Thomas J., que ela conseguiu finalmente fazer uma poesia que mostrava, de fato, o que sentia.


 "Salgueiro chorão com lágrima escorrendo
 Por que você chora e fica gemendo?
 Será porque ele lhe deixou um dia?
 Será porque ficar aqui não mais podia?
 Em seus galhos ele se balançava
 E ainda espera a alegria que aquele balançar lhe dava
 Em sua sombra abrigo ele encontrou
 Imagina que seu sorriso jamais se acabou
 Salgueiro chorão pare de chorar
 Há algo que poderá lhe consolar
 Acha que a morte pra sempre os separou?
 Mas em seu coração pra sempre ficou."

Para Baker et al (1992), o processo do luto e do entendimento da morte consiste na vivência de etapas psicológicas que progressivamente visam superar a dor. A primeira etapa envolve a compreensão do que é a morte, suas características e a capacidade de reconhecê-la no cotidiano.  Nesta fase, é importante que as crianças se sintam autoprotegidas, ou seja, elas precisam compreender que o fato de uma pessoa morrer não significa, necessariamente, que elas ou suas famílias estejam em perigo imediato.
A fase intermediária envolve a compreensão de que a morte é uma realidade, logo é preciso aceitar as emoções que vêm junto com tal fato. Assim, as memórias e as conexões com a pessoa que partiu não é um mal a ser evitado, mas uma necessidade que advém da vivência do luto. Assim, não é uma atitude coerente dar às crianças a falsa esperança de que um ente querido pode "voltar" depois da morte ou, ainda, simplesmente começar a desestimular a conexão da criança com a pessoa que partiu (BAKER et al., 1992). Esta fase mostra uma grande diferença na maneira que crianças e adultos lamentam a perda.  Isso porque a maioria dos adultos, por entender o conceito da morte, não tem que gastar tanto tempo para descobrir o que aconteceu, ainda que o desaparecimento da pessoa de forma brutal do seu meio seja um fato impactante, mas a criança ainda terá que processar a ausência da pessoa sem, muitas vezes, ter a vivência e os elementos necessários para fazer uma representação disso.
A última fase deste processo envolve uma reorganização do sentido de identidade e das relações com os outros e com o meio ambiente. A criança terá que aprender a investir emocionalmente em si mesma e na relação com os outros, sem que o medo de perder alguém para a morte venha a ser um empecilho. Nesta fase, a criança bem ajustada ainda se lembra da pessoa amada, mas sem o medo excessivo que os outros também irão morrer, logo é capaz de lidar com essas lembranças e com as tristezas que as acompanha (BAKER et al., 1992).
Assim, voltando às questões iniciais sobre a vivência do luto na infância, talvez a melhor forma de lidar com uma criança que perde alguém é, primeiramente, estar disposto a conhecê-la, entender, mesmo que seja aos poucos, como ela percebe o mundo e como as coisas desse mundo a afetam. Cada um de nós tem uma lembrança relacionada à morte, e cada um de nós tenta encontrar formas de lidar com ela.  Para muitos, isso pode levar a lugares profundos e/ou sombrios, para outros pode ser um caminho menos tortuoso, mas, em qualquer situação, nunca parece ser uma estrada fácil para se percorrer sozinha.

Referências:
BAKER, J. E., SEDNEY, M. A., & Gross, E. Psychological tasks for bereaved children. American Journal of Orthopsychitray, 62, 105-116, 1992.
MACHADO, A. Como lidam as crianças com a morte/Luto. Revista no. 67 sinais vitais, Julho, p. 45-50, 2006.
TORRES, W. O Conceito de morte em crianças portadoras de doenças crônicas. Psicologia: teoria e pesquisa. Mai-Ago, vol. 18, n.2, p. 221-229-2002.


Pós Morte

A questão de o que acontece, especialmente com os humanos, durante e após a morte, ou o que acontece "uma vez morto", se pensarmos na morte como um estado permanente, é uma interrogação frequente, literalmente uma questão latente na psique humana. Tais questões vêm de longa data, e a crença numa vida após a morte com uma posterior reencarnação ou mesmo a passagem para outros mundos embora muito antigas, são ainda muito difundidas socialmente (veja submundo). Para muitos, a crença e informações sobre a vida após a morte resultam de uma mera busca por consolação ou mesmo de uma covardia em relação à morte de um ser amado ou à prospecção da inevitabilidade de sua própria morte. A crença em vida após a morte pode para esses trazer algum consolo, contudo crenças como o medo do Inferno ou de outras consequências negativas podem tornar a morte algo muito mais temido. A contemplação humana da morte é uma motivação importante para o desenvolvimento de sistemas de crenças e religiões organizadas. Por essa razão, palavra passamento quando dita por um espírita, significa a morte do corpo. A passagem da vida corpórea para a vida espiritual.
Apesar desse ser conceito comum a muitas crenças, ela normalmente segue padrões diferentes de definição de acordo com cada filosofia. Várias religiões creem que após a morte o ser vivo ficaria junto do seu criador, para os cristãos, Deus.
Muitos antropólogos sentem que os enterros fúnebres atribuídos ao Homem de Neanderthal / Homo neanderthalensis, onde corpos ornamentados estão em covas cuidadosamente escavadas, decoradas com flores e outros motivos simbólicos, é evidência de antiga crença na vida após a morte.
Do ponto de vista científico, não se confirma a idéia de uma vida após a morte. Embora grande parte da comunidade científica sustente que isso não é um assunto que caiba à ciência resolver, e que cientificamente não há evidências que corroborem a existência de espíritos ou algo com função similar que sobreviva após a morte , muitos pesquisadores tentaram e ainda tentam entrar nesse campo estudando por exemplo as chamadas "experiências de quase-morte". Para eles, o conceito de "vida" se associa ao de "consciência", contudo consciência não atrela-se à matéria conhecida .
Ao fim, consideram-se em essência três hipóteses:
◾A consciência existe unicamente como resultado de correlações materiais . Essa hipótese é a que encontra corroboração científica atualmente, e se for verdadeira, a vida cessa de existir no momento da morte.
◾A consciência não tem origem física e sim transcendente à matéria , usando o corpo físico apenas como instrumento para se expressar. Se esta hipótese for verdadeira, certamente há uma existência de consciência após a morte e não obstante também antes da vida física, o que leva diretamente às tentativas de validação da reencarnação. É a adotada na Doutrina Espírita; sendo igualmente utilizada por várias outras doutrinas espiritualistas para validar os acontecimentos por eles presenciados e assumidos como transcendentais; bem como para explicarem-se os êxtases em cultos de neopaganismo.
◾A consciência tem uma origem física e encontra-se atrelada ao cérebro, mas há uma distinção entre os estados físicos da matéria (da massa encefálica) e os pensamentos que deles derivam . Nessa linha de pensamento há alguns que vão adiante e alegam que a consciência atrela-se a algum tipo de matéria imponderável que, embora relacionada à matéria ordinária, não se decompõe como a primeira quando da morte. A hipótese também é, neste caso, compatível com a reencarnação e com a filosofia das doutrinas espiritualistas.

quinta-feira, 23 de janeiro de 2014

Morte Cerebral


Morte cerebral




Designa-se por Morte Cerebral ou Morte Encefálica a perda definitiva e irreversível das funções cerebrais. O termo Morte Encefálica aplica-se a condição final, irreversível, definitiva de cessação das atividades do tronco cerebral. O tronco cerebral é constituído pelo mesencéfalo, ponte e bulbo. É a porção mais nobre e antiga do encéfalo (formado pelo tronco encefálico mais cérebro e cerebelo) Portanto, este termo é muito mais adequado que "morte cerebral".
No tronco cerebral há diversas estruturas responsáveis pelas nossas funções vitais (controle de pressão arterial, atividade cardíaca, respiratória e nível de consciência) em resumo, é o que nos mantém vivos. A lesão do mesmo é a via final de qualquer agressão ao encéfalo (isquêmica, anóxica, metabólica). A lesão não necessariamente é causada por um problema primário do encéfalo, pode ser consequência de uma enfermidade sistêmica.
A morte encefálica foi um avanço no conceito de morte, para entender, de forma prática, basta termos em mente que uma parada cardíaca, nas condições adequadas, pode ser revertida; já o mesmo não acontece com a atividade do tronco cerebral.
O conceito moderno de morte cerebral foi cientificamente definido e aceito por todas as religiões como cessação da vida. Começou a ser moldado em 1959, pelos franceses Mollaret e Goulon, que descreveram uma série de casos de pacientes em coma irreversível (Mollaret P e Goulon M. Le coma dépassé. Rev Neurol (Paris). 1959; 101: 3-15.). Em 1968 na Universidade de Harvard , uma comissão de juristas, médicos e religiosos definiu os primeiros critérios do coma irreversível, como um novo conceito de morte1 . Os critérios definidos para morte encefálica variam o redor do mundo, devido muito mais a questões culturais e jurídicas2 . Cientificamente, todas as sociedades fundamentam o diagnóstico no exame clinico neurológico que confirme a irreversibilidade do coma e a falência do tronco cerebral. Em relação a exames específicos, estes devem ser complementares, muitos países os dispensam como necessários ao diagnóstico, uma vez que não existe “exame confirmatório” de morte. Todos os exames utilizados hoje (eletroencefalograma, arteriografia, doppler, SPECT, cintilografia...) isoladamente, sem a história e exame neurológico adequado, de forma alguma auxiliam ou mesmo confirmam o diagnóstico. Recentemente a Sociedade Americana de Neurologia definiu algumas orientações para o diagnóstico de morte encefálica3 .
No Brasil o diagnóstico de morte encefálica é realizado seguindo o “Termo de Declaração de Morte Encefálica”, onde o exame clinico é feito por dois diferentes médicos em diferentes intervalos de tempo, sendo obrigatória a utilização de exame complementar4 .
Vale ressaltar que o diagnóstico de morte encefálica é tão definitivo como o de “morte cardíaca”, portanto, ninguém morre duas vezes; Uma vez em morte encefálica o paciente está definitivamente morto. O paciente em morte encefálica pode, eventualmente, realizar movimentos involuntários, conhecidos como Lazaróides. A maioria deve-se a atividade reflexa medular. São há muito conhecidos, filósofos como Descartes já mencionavam movimentos em animais decapitados; durante a revolução francesa muitos foram os relatos de executados que realizavam movimentos pós-decapitação, portanto, a observação de tais movimentos é plenamente compatível com a confirmação de morte encefálica e de maneira alguma invalida o seu diagnóstico5 .

terça-feira, 21 de janeiro de 2014

RESPEITO E HOMENAGEM AO CADÁVER DESCONHECIDO





 “Conta-me e eu esquecerei; Ensina-me e eu
lembrarei; Envolve-me e eu aprenderei”

Benjamin Franklin  vi


Oração ao Cadáver Desconhecido


“Ao curvar-te com a lâmina rija de teu bisturi sobre o
cadáver desconhecido, lembra-te que este corpo nasceu do
amor de duas almas; cresceu embalado pela fé e esperança
daquela que em seu seio o agasalhou, sorriu e sonhou os
mesmo sonhos das crianças e dos jovens; por certo amou e foi
amado e sentiu saudades dos outros que partiram, acalentou
um amanhã feliz e agora jaz na fria lousa, sem que por ele
tivesse derramado uma lágrima sequer, sem que tivesse uma
só prece. Seu nome só Deus o sabe; mas o destino inexorável
deu-lhe o poder e a grandeza de servir a humanidade que por
ele passou indiferente”

Karel Rokitansky (1876)
Ao cadáver, respeito e agradecimento.

segunda-feira, 20 de janeiro de 2014

Processo de perda e luto possui cinco fases

por Thaís Petroff

TCC - Terapia Cognitivo Comportamenta .Entenda como a sua percepção da realidade afeta suas emoções

Todas as pessoas que sofrem algum tipo de perda ou que têm a possibilidade de sofrer (morte de ente querido, diagnóstico de doença, falência, traição, punição criminal, etc.) passam por um processo de luto, para poder elaborar e lidar com essa situação.
A falecida psiquiatra suíça, Elisabeth Kubler-Ross pesquisou e trabalhou com esse tema e descreveu cinco fases desse processo de luto. Dentro da abordagem da TCC, é possível perceber que existem pensamentos e comportamentos comuns às pessoas que se encontram vivenciando cada uma dessas fases. Essa descrição pode facilitar a compreensão e a percepção sobre o que ocorre com pessoas que vivenciam alguma forma de perda ou luto.
Primeira fase: negação
Nessa fase a pessoa nega a existência do problema ou situação. Pode não acreditar na informação que está recebendo, tentar esquecê-la, não pensar nela ou ainda buscar provas ou argumentos de que ela não é a realidade.
Pensamentos
Comportamentos
• “Isso não é verdade!”
• “Vai passar.”
• “Sempre dou um jeito em tudo, vou resolver isso também.”
• Buscar uma segunda opinião ou outras explicações para a questão.
• Continuar se comportando como antes (ignorando a situação).
• Não aderir ao tratamento (no caso de doença) ou não falar sobre o assunto (no caso de morte, desemprego ou traição).
Segunda fase: raiva
Nessa fase a pessoa expressa raiva por aquilo que ocorre. É comum o aparecimento de emoções como revolta, inveja e ressentimento. Geralmente essas emoções são projetadas no ambiente externo; percebendo o mundo, os outros, Deus, etc. como causadores de seu sofrimento. A pessoa sente-se inconformada e vê situação como uma injustiça.
Pensamentos
Comportamentos
• “Por que eu?”
• “Isso não é justo!”
• “Por que fizeram isso comigo?”

• Perde a calma quando fala sobre o assunto.
• Recusa-se a ouvir conselhos.
• Evita falar sobre o assunto.
Terceira Fase: negociação
Nessa fase busca-se fazer algum tipo de acordo de maneira que as coisas possam voltar a ser como antes. Essa negociação geralmente acontece dentro do próprio indivíduo ou às vezes voltada para à religiosidade. Promessas, pactos e outros similares são muito comuns e muitas vezes ocorrem em segredo.
Pensamentos
Comportamentos
• “Vou acordar cedo todos os dias, tratar bem as pessoas, parar de beber, procurar um emprego e tudo ficará bem.”
• “Vou pensar mais positivamente e tudo se resolverá.”
• “Deus, deixe-me ficar bem de saúde, só até meu filho crescer.” (pessoa ao saber que está doente
)
• Rezar e fazer um acordo com Deus.
• Buscar agradar (no caso de uma traição).
• Se alimentar com produtos lights e diets para compensar os outros alimentos. 
Quarta fase: depressão
Nessa fase ocorre um sofrimento profundo. Tristeza, desolamento, culpa, desesperança e medo são emoções bastante comuns. É um momento e que acontece uma grande introspecção e necessidade de isolamento.
Pensamentos
Comportamentos
• “Não tenho capacidade para lidar com isso.”
• “Nunca mais as coisas ficarão bem.”
• “Eu me odeio.”

• Chorar.
• Afastar-se das pessoas.
• Comportar-se de maneira autodestrutiva.
Quinta fase: aceitação
Nessa fase percebe-se e vivencia-se uma aceitação do rumo das coisas. As emoções não estão mais tão à flor da pele e a pessoa se prontifica a enfrentar a situação com consciência das suas possibilidades e limitações.
Pensamentos
Comportamentos
• “Não é o fim do mundo.”
• “Posso superar isto.”
• “Posso aprender com isto e melhorar.”

• Buscar ajuda para resolver a situação.
• Conversar com outros sobre o assunto.
• Planejar estratégias para lidar com a questão.

As pessoas não passam por essas fases de maneira linear, ou seja, elas podem superar uma fase, mas depois retornar a ela (ir e vir), estacionar em uma delas, sem ter avanços por longo período ou ainda suplantar todas as fases rapidamente até a aceitação. Não há regra. Tudo depende do histórico de experiências da pessoa e crenças que ela tem sobre si mesma e sobre a situação em questão.
Tem pessoas que podem passar meses ou anos num vai e vem e não chegar a aceitação nunca. Tem pessoas que em poucas horas ou dias fazem todo o processo, isso varia também em função da perda sofrida pela pessoa.
O terapeuta de TCC trabalha desafiando os pensamentos automáticos negativos (PANs), fornecendo suporte emocional e planejando conjuntamente com a pessoa comportamentos alternativos mais saudáveis e produtivos.

O Processo de Luto: Como enfrentar a Morte?

O Processo de Luto: Como enfrentar a Morte?


Por 
Psicóloga egressa do CEULP/ULBRA. Colaboradora do (En)Cena.


A sociedade, ainda que moderna, traz consigo tabus que parecem enraizados em sua história. Dentre os diversos assuntos que são por vezes evitados ou vistos com desprezo, a sexualidade e a morte parecem ocuparsempre os primeiros lugares. A morte, no entanto, continua sendo a mais discriminada, se assim pode-se dizer, pois falar da finitude humana faz com que o indivíduo recorde a enfermidade da própria vida e todos os esforços estão voltados para a tentativa de contrariar o único fato incontrolável, que é a mortalidade.
Há uma série de artifícios usados para afastar as pessoas da morte. Os enfermos morrem em hospitais, por vezes longe da presença familiar, afastando o confronto essencial que é o de encarar a morte, como acontecia em tempos passados – as pessoas morriam em casa, sendo veladas ao lado dos familiares e amigos – e isso contribui para a dificuldade de aceitação de um fato inevitável. O que acarreta, também, no desenvolvimento de uma sociedade, em alguns aspectos, cada vez mais individualista.
Não se sabe até que ponto o ser humano pode evitar discussões que têm como tema principal a morte. Ainda que tal esquiva seja algo totalmente impossível, pois a vida e a morte andam lado a lado, já que estão presentes no cotidiano de cada ser vivo. À medida que o ser humano caminha pelas várias fases do ciclo da vida, aproxima-se do incontornável destino final, sendo por isso algo cada vez mais presente e ocupando um espaço maior no pensamento humano. Mas, devido a vários acontecimentos, esse momento final pode ser confrontado até mesmo antes da própria morte do indivíduo, sendo esse confronto um dos mais penosos, que é a perda de alguém próximo, obrigando esse indivíduo a ficar diante da dor mais inquietante do seu ser: a certeza da finitude e a dor da ausência (MELO, 2004).
É imensurável a dor que assola o ser humano durante um momento de perda, pois nenhum homem, ainda que ciente do fim, aceita a condição de ser mortal. Sanders (MELO 2004, apudSANDERS, 1999) diz que a dor de uma perda é tão impossivelmente dolorosa que tem que se criar maneiras para se defender contra a investida emocional do sofrimento, além disso, existe o medo da entrega total da pessoal à dor, a ponto dessa entrega ser tão devastadora que o indivíduo dificilmente conseguirá emergir-se para estados emocionais comuns outra vez. Somente o tempo torna-se aliado daquele que sofre pela perda, permitindo a esse ser uma recuperação lenda e gradual.
Porém, esse mesmo indivíduo tem o papel ativo no processo de luto, tendo que efetuar algumas tarefas de “deixar ir”, desapegar-se ao corpo físico do outro e seguir sua vida. Quando tais tarefas não são realizadas, acaba-se por passar a tênue linha que separa luto normal do luto patológico. Nesse caso, o luto patológico possui sintomas severos, características de uma fase inicial que se segue à perda, prolongando-se por um período de tempo superior ao tempo normal adquirido ao luto (MELO, 2004).


O que é o processo de luto? A palavra luto deriva do latim luctu – tristeza. Segundo o Dicionário da Língua Portuguesa, o luto significa a dor e o pesar pelo sentimento de perda de alguém próximo. Bifulco (2005) destacou a importância de compreender o luto não somente após a morte, mas com os acontecimentos anteriores à ela, a posto que, ao descobrir a doença terminal – termo em que ela descreve como sendo utilizado erroneamente, visto que todos os seres-vivos são terminais – o sofrimento está ao longo de sua descoberta, pois tanto o paciente quanto seus familiares passam por um processo de luto.   
Klüber-Ross (1998) dedicou-se a análise do processo de luto vivido por pacientes que receberam diagnóstico de doenças terminais e elaborou cinco estágios básicos durante esse processo. O primeiro estágio é o de negação e isolamento, onde pacientes e familiares não aceitam o diagnóstico ou a morte. Este estágio ocorre devido o ser humano não estar preparado para a morte, mesmo sabendo que ela é inevitável. O segundo estágio é caracterizado pela raiva, momento em que o paciente, ou a pessoa enlutada, não compreende porque isso aconteceu justamente com ele, culpando tudo o que lhe cerca.
O terceiro estágio é o de barganha, um estágio curto, porém bastante significativo, pois, se nos dois anteriores momentos o sentimento é de negação e raiva, culpando a Deus e a todos, nesse estágio há um tipo de trato. Assim o paciente usa como argumento de que se a raiva e o fato de não aceitar a situação não o favoreceu, talvez mudando o comportamento e tendo boas atitudes consiga reverter esse caso.
O quarto estágio se caracteriza pelo sentimento de depressão, situação em que o paciente já não pode negar mais sua doença, bem como a família não pode negar a perda. O paciente sente-se triste e frustrado por não conseguir reverter sua situação, sente um misto de sentimentos e aflições, ansiedade e stress desencadeados pela certeza da morte. O último estágio é o de aceitação, sendo um momento de despedida do mundo, de morrer tranquilo. Assim como a família, ele compreende que não há mais nada que se possa fazer.
É importante que o indivíduo passe por estas etapas, visto que isso estimula a compreensão da vida e a aceitação dos fatos. Para Sullivan (1956 apud SANDERS, 1999), o processo de luto oferece ao homem a oportunidade de se desligar dos laços de vinculação. Em condições normais, tal processo elimina vinculações que ameaçam manter as ilusões do amor eterno, no caso o autor defende a ideia de que o luto se trata de um mecanismo extremamente valioso e protetor, sem, no entanto, negligenciar a dor ou evitar os aspectos desagradáveis impostos ao momento.


Segundo estudos de Melo (2004), os sentimentos mais comuns vivenciados durante o processo de luto dos sobreviventes são:
  • Tristeza: sentimento mais comum encontrado no enlutado, muitas vezes manifestado através do choro.
  • Raiva: um dos sentimentos mais confusos vividos pelo sobrevivente, estando na raiz de muitos problemas vinculados ao processo de luto. A raiva advém de duas fontes: frustação por não haver nada a ser feito ou que pudesse ser feito para evitar, prevenir ou remediar a morte, a pessoa sente-se indefesa, incapaz de existir sem o outro e usa a raiva como companhia, além de outros sentimentos, como ansiedade, culpa (geralmente culpa a si mesmo ou aos outros) e nos casos mais extremos desenvolve comportamentos suicidas.
  • Culpa: geralmente ocorre no início do processo de luto, há um sentimento de culpa por não ter sido suficiente na vida da outra pessoa, não ter levado a pessoa ao hospital mais cedo, não saber como evitar o acontecido, não ter agido de outra forma, a culpa é irracional e irá desaparecer através do teste com a realidade.
  • Ansiedade: sentimento que pode variar de uma ligeira sensação de insegurança até um forte ataque de pânico. Quanto mais intensa a ansiedade mais sugere uma reação de sofrimento patológico. Surge por duas vias: o sobrevivente passa a se sentir incapaz de tomar conta de si próprio, sem a presença do outro e o indivíduo tem a consciência de mortalidade aumentada.
  • Solidão: o sobrevivente frequentemente sente-se sozinho no mundo, principalmente quando a perda se deu com um cônjuge ou que estava habituado com uma relação próxima no dia-a-dia.
  • Fadiga: sentimento de apatia ou indiferença. Quando em níveis elevados, a fadiga pode ser surpreendente e angustiante para uma pessoa que normalmente é muito ativa.
  • Desamparo: presente geralmente na fase inicial da perda.
  • Choque: ocorre com mais frequência quando se trata de uma morte súbita, inesperada, mas também pode surgir quando a morte era algo previsível.
  • Anseio: o sobrevivente anseia pela pessoa perdida. Quando essa espera diminui pode-se dizer que o processo de luto está chegando ao fim.
  • Emancipação: é a liberação, podendo ser um sentimento positivo após a perda.
  • Alívio: é comum principalmente se a pessoa querida sofria de doença prolongada ou dolorosa; contudo, um sentimento de culpa acompanha normalmente esta sensação de alívio.
  • Torpor: alguns sobreviventes relatam uma ausência de sentimentos. Sentem-se entorpecidas. Acontece no início do processo de sofrimento, logo após tornar conhecimento da morte. Pode ser uma reação saudável, pois bloqueia as sensações iniciais como uma espécie de defesa contra o que de outra forma seria uma dor esmagadoramente insuportável.

Segundo Worden (MELO 2004, apud WORDEN, 1991) existem quatro tarefas essências que facilitam o processo de luto, sendo elas:
1.        Aceitar a realidade da perda: quando alguém morre, ainda que seja uma morte esperada, há sempre um sentimento de aquilo não aconteceu. Dessa forma, a primeira tarefa está em aperceber-se da realidade de que a pessoa morreu e não irá mais voltar. No entanto, chegar a essa conclusão e aceitação de perda leva um tempo, pois envolve uma aceitação intelectual e emocional. Porém os rituais tradicionais (funeral) ajudam os enlutados a avançarem na aceitação da perda.
2.        Trabalhar a dor advinda da perda: algumas pessoas experimentam, além da dor emocional, a dor física e comportamental. Uma vez que a pessoa enlutada precisa passar pela dor da perda, tudo que permite a pessoa evitar esse sofrimento prolonga o processo. Essa dor precisa ser vivenciada, pois mesmo que negada, uma hora ou outra ela surge, e o indivíduo pode ter recaídas.
3.        Ajustar a um ambiente em que o falecido está ausente: isso possui diferentes significados e difere de pessoa pra pessoa. No entanto, essa tarefa se remete ao acostumar-se com a falta da pessoa, compreender que aquele lugar não será mais frequentado por ela. 
4.        Transferir emocionalmente o falecido e prosseguir com a vida: os laços, as memórias, os sentimentos para com a pessoa que partiu jamais são esquecidos ou substituídos. Segundo Volkan (apud MELO, 2004, citado por WORDEN, 1991), todo o processo de luto termina quando o enlutado deixa de ter uma necessidade da representação do falecido com uma intensidade exagerada no dia-a-dia. O “deixar ir” aqui se refere a aceitação da morte, e prosseguir com a vida, embora as lembranças sempre irão existir.

O processo de luto se encerra quando todas essas tarefas suprem a necessidade do ente falecido, ou seja, quando a pessoa que sofreu a perda entende o que aconteceu e aceita a morte. Quanto à duração, não se pode responder com objetividade, uma vez que isso varia de pessoa para pessoa. Embora alguns estudos afirmam que dura cerca de um ano, pois a pessoa enlutada precisa enfrentar todas as datas comemorativas sem o ente querido, outros estudos afirmam que dura cerca de seis meses, no caso de prolongamento das datas pode ser que haja um luto patológico. Mas não há, de fato, um tempo de duração confirmado. Como dito no início deste trabalho, cada pessoa vive a perda de uma maneira. Enfrenta sua dor da forma que lhe convém. Não cabe a nenhum profissional ditar as regras de como ela deve superar isso, apenas lhe oferecer suporte emocional e apoio.


Referências:
BIFULCO, V. A. Psicologia da Morte. 2005. Disponível em: <http://www.eventos.med.br/tanatologia/2/textos/psicologiadamorte.pdf>
KLÜBER-ROSS, E. Sobre a Morte e o Morrer. 8a ed. São Paulo: Martins Fontes, 1998. 
MELO, R. O Processo de Luto: O inevitável percurso face a inevitabilidade da morte. 2004. Disponível em;http://groups.ist.utl.pt/unidades/tutorado/files/Luto.pdf.
ROCHA, A. C. O. MOREIRA, L. S. Lidar Com a Morte na Infância: Conversando através de livros. Palmas- TO. 2012. Acervo Pessoal.
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domingo, 19 de janeiro de 2014

Pensando na Morte

A missão tradicional do médico é aliviar o sofrimento humano; se puder curar, cura; se não puder curar, alivia; se não puder aliviar, consola. Ao pensar na morte, seja a simples idéia da própria morte ou a expectativa mais do que certa de morrer um dia, seja a idéia estimulada pela morte de um ente querido ou mesmo de alguém desconhecido, o ser humano maduro normalmente é tomado por sentimentos e reflexões.
As pessoas que se regozijam em dizer que não pensam na morte, normalmente têm uma relação mais sofrível ainda com esse assunto, tão sofrível que nem se permitem pensar a respeito. Esses pensamentos, ou melhor, os sentimentos determinados por esses pensamentos variam muito entre as diferentes pessoas, também variam muito entre diferentes momentos de uma mesma pessoa. Podem ser sentimentos confusos e dolorosos, serenos e plácidos, raivosos e rancorosos, racionais e lógicos, e assim por diante. Enfim, são sentimentos das mais variadas tonalidades.
Isso tudo pode significar que a morte, em si, pode representar algo totalmente diferente entre as diferentes pessoas, e totalmente diferente em diferentes épocas da vida de uma mesma pessoa.
O Eu diante da Morte De um modo geral, descontando as defesas das reflexões zen, das meditações transcendentais e de toda sorte de subterfúgios do medo e do temor do nada, a idéia da morte nos remete aos sentimentos de perda, portanto, em tese, nos desperta sentimentos dolorosos. Trata-se de uma espécie de dor psíquica, a qual muitas vezes acaba também gerando dores físicas, ou criando uma dinâmica incompreensível para quem a vida continua sorrindo.
Poderíamos dizer que na Depressão, o tema morte está mais presente, seja o medo dela, seja a vontade de que ela aconteça casualmente ou, mais grave, sob a forma de ideação suicida. De qualquer forma, pensa-se na morte e, como não poderia deixar de ser, acompanha sentimentos dolorosos. Essa é uma dor psíquica, naturalmente movida por sentimentos de tristeza, de finitude, de medo, de abandono, de fragilidade e insegurança.
Na espécie humana a dor psíquica diante da morte pode ser considerada fisiológica, mas sua duração, intensidade e resolução vão depender, muito provavelmente, de como a pessoa experimentou a vida. Diz um ditado: “teme mais a morte quem mais temeu a vida”.
Durante a fase de enfrentamento da morte, o paciente é estimulado a profundas reflexões sobre a própria vida; se lhe foi satisfatória sua trajetória de vida, se houve algum desenvolvimento emocional, se pode criar vínculos afetivos fortes e permanentes, se ele pode auxiliar a outros seres humanos. Orientado psicologicamente (cognitivamente) poderá ser possível que, apesar de doloroso, esse momento possa ter um importante e saudável balanço emocional.
Os 5 Estágios da Perspectiva de MorteA reação psíquica determinada pela experiência com a morte, ou mesmo diante de um diagnóstico médico associado com a perspectiva de vir a morres foi descrita porElisabeth Kubler-Ross como tendo cinco estágios (Berkowitz, 2001):
Primeiro Estágio: negação e isolamento A Negação e o Isolamento são mecanismos de defesas temporários do Ego contra a dor psíquica diante da morte. A intensidade e duração desses mecanismos de defesa dependem de como a própria pessoa que sofre e as outras pessoas ao seu redor são capazes de lidar com essa dor. Em geral, a Negação e o Isolamento não persistem por muito tempo.
Segundo Estágio: raiva Por causa da raiva, que surge devido à impossibilidade do Ego manter a Negação e o Isolamento, os relacionamentos se tornam problemáticos e todo o ambiente é hostilizado pela revolta de quem sabe que vai morrer. Junto com a raiva, também surgem sentimentos de revolta, inveja e ressentimento.
Nessa fase, a dor psíquica do enfrentamento da morte se manifesta por atitudes agressivas e de revolta; - porque comigo? A revolta pode assumir proporções quase paranóides; “com tanta gente ruim pra morrer porque eu, eu que sempre fiz o bem, sempre trabalhei e fui honesto”...
Transformar a dor psíquica em agressão é, mais ou menos, o que acontece em crianças com depressão. É importante, nesse estágio, haver compreensão dos demais sobre a angústia transformada em raiva na pessoa que sente interrompidas suas atividades de vida pela doença ou pela morte.
Terceiro Estágio: barganha Havendo deixado de lado a Negação e o Isolamento, “percebendo” que a raiva também não resolveu, a pessoa entra no terceiro estágio; a barganha. A maioria dessas barganhas é feita com Deus e, normalmente, mantidas em segredo.
Como dificilmente a pessoa tem alguma coisa a oferecer a Deus, além de sua vida, e como Este parece estar tomando-a, quer a pessoa queira ou não, as barganhas assumem mais as características de súplicas.
A pessoa implora que Deus aceite sua “oferta” em troca da vida, como por exemplo, sua promessa de uma vida dedicada à igreja, aos pobres, à caridade ... Na realidade, a barganha é uma tentativa de adiamento. Nessa fase o paciente se mantém sereno, reflexivo e dócil (não se pode barganhar com Deus, ao mesmo tempo em que se hostiliza pessoas).
Quarto Estágio: depressão A Depressão aparece quando o paciente toma consciência de sua debilidade física, quando já não consegue negar suas condições de doente, quando as perspectivas da morte são claramente sentidas. Evidentemente, trata-se de uma atitude evolutiva; negar não adiantou, agredir e se revoltar também não, fazer barganhas não resolveu. Surge então um sentimento de grande perda. É o sofrimento e a dor psíquica de quem percebe a realidade nua e crua, como ela é realmente, é a consciência plena de que nascemos e morremos sozinhos. Aqui a depressão assume um quadro clínico mais típico e característico; desânimo, desinteresse, apatia, tristeza, choro, etc.
Quinto Estágio: aceitação
Nesse estágio o paciente já não experimenta o desespero e nem nega sua realidade. Esse é um momento de repouso e serenidade antes da longa viagem.
É claro que interessa, à psiquiatria e à medicina melhorar a qualidade da morte (como sempre tentou fazer em relação à qualidade da vida), que o paciente alcance esse estágio de aceitação em paz, com dignidade e bem estar emocional. Assim ocorrendo, o processo até a morte pôde ser experimentado em clima de serenidade por parte do paciente e, pelo lado dos que ficam, de conforto, compreensão e colaboração para com o paciente.
A Medicina Paliativa O termo "paliativo" tem uma conotação leiga pejorativa que não corresponde, absolutamento, à verdade. Paliativo é a qualidade de aliviar, e é o que mais interessa à pessoa que sofre, portanto, quando se fala Medicina Paliativa não se pretende, de forma alguma, atribuir um sentido pejorativo, minimizado ou frugal ao termo. Devemos ter cuidado quando alguém diz... “esse medicamento é APENAS um paliativo”, com intenção clara em atribuir alguma conotação pejorativa.
No Brasil a Medicina Paliativa ainda caminha a passos lentos mas, no Reino Unido, onde tudo começou, somando-se com a Austrália, USA e Canadá, existem mais de 6.000 centros de Medicina Paliativa, sendo considerada uma especialidade médica e de grande notoriedade.

No Brasil, a atuação da Medicina Paliativa, iniciada em 1983 pela Dra. Míriam Marteleteno Hospital das Clinicas de Porto Alegre, é ainda praticamente desconhecida pelos médicos brasileiros. Os Cuidados Paliativos são tipos especiais de cuidados destinados a proporcionar bem estar, conforto e suporte aos pacientes e seus familiares nas fases finais de uma enfermidade terminal.
Assim, a Medicina Paliativa procura conseguir que os pacientes desfrutem os dias que lhes restam de forma mais consciente possível, livres da dor e com seus sintomas sob controle. Isso tudo é pretendido para que esses pacientes possam viver seus últimos dias com dignidade, em sua casa ou em algum lugar mais parecido possível, rodeados de pessoas que lhes queiram bem. Na realidade, esse tipo de cuidado pode ser realizado em qualquer local onde o paciente se encontra, seja em sua casa, no hospital, em asilos ou instituições semelhantes, etc.
Cuidado Paliativo é uma atenção médica e multiprofissional aos pacientes cuja doença não responde aos tratamentos curativos. Para a Medicina Paliativa é primordial o controle da dor, de outros sintomas igualmente sofríveis e, até, dos problemas sociais, psicológicos e espirituais. Os Cuidados Paliativos são interdisciplinares e se ocupam do paciente, da família e do entorno social do paciente.
Os Cuidados Paliativos não prolongam a vida, nem tampouco aceleram a morte. Eles somente tentam estar presentes e oferecer conhecimentos médicos e psicológicos suficientes para o suporte físico, emocional e espiritual durante a fase terminal e de agonia do paciente, bem como melhorar a maneira de sua família e amigos lidarem com essa questão.
Essa área médica objetiva o alívio, a preparação e, conseqüentemente a melhoria das condições de vida dos pacientes com doenças progressivas e irreversíveis como, por exemplo, crônico-degenerativas, incapacitantes e fatais. Atualmente diz respeito mais aos pacientes com câncer, AIDS, pneumopatias, degenerações neuromotoras, doenças metabólicas, congênitas, Doença de Alzeheimer, Doença de Parkinson, etc, bem como os politraumatizados com lesões irreversíveis.
Uma das maiores dificuldades para a Medicina Paliativa ter desenvoltura próxima à de outras especialidades, pode ser o preconceito universal existente em relação às condutas terminais, mais precisamente, em relação à morte.
A Qualidade da Vida e da Morte Na formação do médico, bem como na formação das especialidades, a morte costuma ser abolida do rol de preocupações clínicas. Dificilmente os médicos perguntam, na anamnese, se o paciente tem medo de morrer, pensa em morrer, pensa em suicídio, ou coisas assim. Aliás, nem sequer é perguntado se o paciente está triste, nem sequer como ele ESTÁ... E isso se deve, provavelmente, à total falta de conhecimento sobre o que fazer com a resposta do paciente.
Quanto mais avança o conhecimento médico em todos os campos (farmacologia; terapêutica, anestesia, cirurgia, transplantes de órgãos, fertilização humana, genética, imunologia, medicina nuclear, recursos diagnósticos, etc...), quanto mais se desenvolvem tecnologias aplicadas à medicina, mais o médico se distancia da morte.
Os protocolos de procedimentos médicos, as normas administrativas da medicina e os rígidos manuais de conduta acabaram por institucionalizar a morte. É comum vermos em livros-texto uma perfeita descrição de determinado quadro clínico, reconhecidamente irreversível e com desfecho fatal, mas nada se fala dos cuidados finais, da atenção familiar e afetiva que o paciente deveria receber nesse momento. Não, fala-se muito em deixá-lo nos centros de terapia intensiva.
É objetivo da Medicina Paliativa é a preocupação com a desinstitucionalização da morte, dando ao paciente a possibilidade de escolher permanecer em casa durante sua agonia. A discussão que pretendemos alimentar é, sobretudo, um protesto contra as condições de vida impostas pela medicina moderna aos doentes terminais, subtraindo deles as opções de um morrer menos sofrível.
Pensamos que, intervir no paciente terminal em centros de terapia intensiva, quando não objetiva exclusivamente minimizar sofrimentos, pode refletir sentimento de onipotência da medicina sobre a vida, sobre a vida física, como se ela fosse considerada o bem supremo e absoluto, acima da liberdade e da dignidade.
O amor pela vida, quando a toma como um fim em si mesma, se transforma em um culto pela vida. A medicina que se preocupa insensivelmente com as “condições vitais”, deixando de lado as “qualidades vitais”, promove implicitamente esse culto idólatra à vida.
Nessas circunstâncias a medicina interfere na fase terminal como se travasse uma luta a todo custo contra a morte e não, como seria preferível, numa luta em defesa do paciente. A maneira de morrer, portanto, não pode ser excluída, absolutamente, do projeto de vida da pessoa. A maneira de morrer também é uma forma de humanizar a vida no seu ocaso, devolvendo-lhe a dignidade perdida.
O Paciente Terminal O grande desenvolvimento da Medicina nas últimas décadas do século XX, assim como as melhorias inegáveis nas condições de vida, elevaram a expectativa de vida de 34 anos, no começo do século XX, até quase 80 anos no começo do século XXI.
Conseqüente ao aumento da perspectiva de vida e ao envelhecimento progressivo das populações, nas últimas décadas está havendo um aumento gradual na prevalência de algumas doenças crônicas e invalidantes.
Os avanços conseguidos no tratamento específico do câncer têm permitido um aumento significativo da sobrevivência e da qualidade de vida desses pacientes. Mesmo assim, estima-se atualmente que 25% das mortes sejam devidas ao câncer.
Por outro lado, sem nenhuma relação com o envelhecimento da população, a AIDS grassou tenazmente em nossa sociedade, demandando fortes medidas sanitárias. Aqui também, apesar dos avanços nessa área, continua grande o número anual de pacientes terminais produzidos por essa doença.
O estado mórbido que chamamos de Doença Terminal se caracteriza por algumas situações clínicas precisamente definidas, as quais se podem relacionar da seguinte forma:
1. Presencia de uma doença em fase avançada, progressiva e incurável.
2. Falta de possibilidades razoáveis de resposta ao tratamento específico.
3. Presença de numerosos problemas ou sintomas intensos, múltiplos, multifatoriais e alternantes.
4. Grande impacto emocional (no paciente e familiares) relacionado à presença ou possibilidade incontestável da morte.
5. Prognóstico de vida inferior a 6 meses.
Os Pacientes Terminais apresentam peculiaridades próprias que o profissional médico deve conhecer. O controle dos sintomas do estado terminal deve ser abordado não só do ponto de vista farmacológico, senão também, do ponto de vista psicológico, social, familiar, espiritual, etc.
Nesses pacientes os sintomas costumam ser devidos a diversos fatores. Podem ser decorrentes da própria doença que levou ao estado terminal, podem ser devidos aos tratamentos médicos fortemente agressivos à saúde, da debilidade física geral ou de causas totalmente alheias à doença grave, entre elas, do estado emocional do paciente.
Seja qual for a origem dos sintomas e do quadro geral que o paciente apresenta, é necessário explicar, da melhor forma possível, sobre o que está ocorrendo e sobre as possíveis questões que possam estar preocupando. Também a família deve estar sempre bem informada, especialmente quando os cuidados estiverem a cargo dela (Sánchez, 2000).
A Família na visão Paliativa De modo geral, exceto as infelizes exceções, o familiar representa mais do que a simples presença de alguém promovendo cuidados ao paciente. O familiar representa alguém que, independente das possibilidades terapêuticas, pode compreender e realizar com carinho difíceis tarefas como, por exemplo, dar banho, às vezes no leito, dar a medicação nas doses e horários certos, preparar e dar uma alimentação adequada, fazer curativos, etc.
É claro que os profissionais contratados para essas tarefas poderão fazê-las melhor, tecnicamente, mas importa muito a maneira e o carinho com que são realizadas. Havendo a qualidade afetiva dos cuidados, outros cuidadores, além da família podem ser envolvidos no Tratamento Paliativo.
Um dos propósitos da Medicina Paliativa é orientar a família para que ela seja um bom suporte de auxílio ao paciente terminal, priorizando sempre as condições necessárias para manter o paciente em casa onde, seguramente, terá uma qualidade de vida melhor. Em casa ele estará cercado de carinho e atenção, o que pode minimizar o seu medo de morrer.
Para a desejável participação familiar plena devem ser identificados, dentro da dinâmica familiar, os eventuais pontos de conflitos, anteriores e posteriores ao diagnóstico da doença.
Antigamente o paciente em fase terminal morria em sua própria casa, lentamente, onde tinha tempo para despedir-se e passar seus últimos momentos com seus familiares. Nossa cultura científica e objetiva por excelência, muitas vezes acaba por deixar pessoas morrerem sozinhas, na assepsia fria dos hospitais e experimentando, como último sentimento, um dos medos mais primitivos do ser humano: a solidão.
Com o desenvolvimento científico morrer tornou-se solitário e desumano. Geralmente o doente, cognominado Doente 620-C ou doente do Box 3-B, é confinado ao seu leito onde aguarda a morte chegar, estando as pessoas seriamente preocupadas com o funcionamento de seus pulmões, secreções, pressão venosa central, traçado eletrocardiográfico, etc.
Diante do paciente terminal, quando a medicina já sabe que a doença venceu a guerra, não cabe mais ao médico a tentativa de cura, muitas vezes extremamente sofrível e estéril, mas assistir, servir, confortar e cuidar. Se pretendermos ajudar alguém nessa fase, seja terapeuticamente, medicamente ou humanamente, deveremos nos informar e nos preparar para lidar com a morte.
Mas sempre tem alguém que já sabe sobre a morte, não precisa saber mais nada, como é comum dizerem sobre qualquer tema da psicologia e da psiquiatria. Ora, todos também sabemos correr. O problema é que, se não treinarmos e aperfeiçoarmos a arte de correr, jamais faremos alguma coisa meritosa com nossa maneira, digamos, “natural” de correr. Portanto, vamos falar da morte para ajudar pessoas que morrem...
Segundo o paradigma cartesiano, segundo ainda os dicionários objetivos, a morte se constitui o oposto da vida. Por isso, torna-se um fenômeno aterrorizante, repulsivo e desconhecido para nossa espécie, que exulta instintivamente a vida. Dor e medo são os sentimentos básicos predominantes nesta relação com a morte.
Mas a morte é um processo biológico natural e necessário. Falar que a morte é o contrário da vida não é correto. A morte é uma condição indispensável à sobrevivência da espécie e, através dela a vida se alimenta e se renova. Desta maneira a morte não seria a negação da vida e sim um artifício da natureza para tornar possível a manutenção da vida.
A sociedade ocidental, basicamente, rejeita a morte procurando constantemente vencê-la e para isso se baseia no seu desenvolvimento científico. A tentativa de vencer ou, no mínimo, contornar a morte é pretendida com certo sucesso pela medicina moderna.
Tomando por base a aspiração natural do ser humano para a vida, considerando ainda que o maior desejo do ser humano é a imortalidade, na maioria das vezes a morte é considerada uma inimiga.
O sonho da permanência eterna ou, no mínimo, muitíssima prolongada, ganhou um importante aliado com os avanços da medicina, com o aumento da expectativa de vida, com a possibilidade de haver cura para todas as doenças, mesmo o câncer ou a Aids.
Enfim, a ciência médica com seus progressos para a melhoria da vida, com seus avanços científico-tecnológicos, com a indiscutível eficiência dos diagnósticos, dos medicamentos, das técnicas cirúrgicas, etc, não tem tido tempo de falar da morte. Não a ciência médica, mas os médicos, embevecidos pelo sucesso na promoção da vida, acabam achando um despropósito dedicar-se a cuidar da morte, único evento decididamente atrelado à vida.
Não se sabe bem porque mas, apesar do sucesso da ciência em prolongar a vida útil do ser humano, em manter jovem por mais tempo as pessoas, em atrasar o envelhecimento, em fazer viver mais de 100 anos, enfim, apesar de todos esses fatores de valorização da vida e da conquista da beleza e jovialidade duradouras, a idéia da morte continua assombrando ainda mais.
Poderíamos perguntar, hipoteticamente, ao ser humano: - “depois de todas essas conquistas da ciência para aumentar o tempo e a qualidade da existência humana, você está satisfeito?” Certamente a resposta é não. E é graças a esse inconformismo com a finitude que o ser humano promove, cada vez mais, sua permanência entre os vivos. Talvez todo esse avanço tenha servido para estimular maior apego ainda à vida.
Enfim, tudo o que possa lembrar a morte, seja a doença grave, a velhice, a decrepitude e até a própria idade é escamoteado. Para a ocultação ser completa, o próprio doente que vai morrer, morre no hospital, longe dos olhos (e do coração). Também os rituais de luto são cada vez mais rápidos e pragmáticos, digamos, mais empresariais e mais clean.
Como se não bastasse o verdadeiro pânico do ser humano diante da morte, ainda somos educados com a personificação da morte representada por um esqueleto coberto com uma capa preta e carregando uma foice afiada na mão, pronta para degolar quem quer que se aproxime. Dificilmente as pessoas entenderão que a morte possa apenas representar uma vida que chegou naturalmente ao fim, uma existência que simplesmente expirou.
A duração máxima da vida humana atualmente é de, aproximadamente, 120 anos. Alguns centros científicos dedicados à pesquisa da longevidade trabalham com uma expectativa de levar a vida humana até os 400 anos.
Hoje se acredita que o processo de envelhecimento, que culmina com a morte, não se dá aleatoriamente, simplesmente como conseqüência natural da degeneração, mas como um processo ativo e geneticamente programado. Este programa estaria impresso nos cromossomos, ou seja, nossas células se regenerariam um número geneticamente definido de vezes, depois do qual morreriam.
O que Podemos Fazer
A dificuldade do ser humano em geral e, particularmente, do profissional de saúde em lidar com a morte pode ser trabalhada e melhorada, com isso, pode melhorar qualidade de vida de todos envolvidos na questão; do próprio paciente, dos familiares, do médico e de toda equipe.
Inicialmente, é claro, o maior investimento deve ser dirigido ao paciente, deve pretender melhorar o conforto e a qualidade de vida de quem agoniza mas, em seguida, como “a morte é para quem fica”, os familiares e os próprios profissionais envolvidos com o morrer cotidiano, devem ser acudidos.
O ser humano, normalmente, recebe alguma preparação antes mesmo de vir ao mundo; o bebê, de uma forma ou de outra, uns mais outros menos, tem sua chegada preparada. Aí então, a criança é preparada para ficar maiorzinha, para entrar na pré-escola, para entrar na escola. Preparam-se, uns mais outros menos, para a adolescência e, na família ou fora dela, para ser jovem, depois adulto. O adulto é preparado, pela própria vida, uns mais outros menos, para a velhice. Mas, raramente alguém é preparado para a morte.
Por isso, primeiramente, o profissional de saúde deve preparar-se para lidar com a morte ele próprio, quando esta pode ser uma ocorrência comum no ambiente de trabalho. Além disso, para poder ajudar os outros, deverá conhecer e estudar a Tanatologia; conhecer a reação psicológica da perda de algo (pessoa, situação etc.), saber identificar o luto normal e o patológico e entender como crianças, adolescentes, adultos e velhos reagem à morte e às perdas da vida.
Notamos a falta de preparo das equipes de saúde quando existe, no ambiente hospitalar, um temor pela morte como se tratasse de um forte potencial de “contágio”. Esse aspecto temerário e despreparado explica a solidão e a frieza das unidades de terapia intensiva, onde, muitas vezes, os doentes terminais morrem sem a chance de dizer uma última palavra aos que amam e sem estes lhes ofereçam qualquer conforto emocional.
Para a formação do médico uteísta, preocupa-se muito em treiná-lo para passar um intracat, a interpretar uma gasometria, um eletrocardiograma ou um exame de fundo-de-olho. Estes são, sem dúvida, requisitos indispensáveis para salvar vidas. Mas, quando tudo isso não for suficiente e o paciente insiste em não reagir, o médico versado nas urgências e emergências não costuma saber mais o que fazer; não sabe segurar a mão agonizante, falar palavras de apoio, conforto e carinho.
É claro que, sendo assim, morrer no hospital é muito mais sofrível, dá muito medo. A quase ausência total de auxílio emocional (espiritual) para aqueles que vão morrer não pode ser justificado pelo apego acadêmico à ciência, pois o cuidado afetivo e espiritual é um direito essencial de todo ser humano. Não é, de forma alguma incompatível, que se ensine técnicas da medicina moderna aos jovens médicos que se formam, simultaneamente aos preceitos milenares do humanismo caridoso e fraterno.
para referir:
Ballone GJ - Lidando com a Morte - in. PsiqWeb, Internet, disponível emwww.psiqweb.med.br, revisto em 2005

Os sentimentos de perda afetam todas as pessoas durante a vida.



sensação de perda (luto) é um sentimento que, inegavelmente, mais cedo ou mais tarde todos experimentarão, pois todos se defrontam com a morte de alguém querido durante a vida. Talvez pelo fato desse sentimento aparecer habitualmente com certa surpresa, a possibilidade das perdas não costuma habitar a consciência das pessoas afetivamente bem. Dessa forma, o mais comum é que as pessoas estejam despreparadas para a perda.
Fisiologicamente a angústia ocorre após qualquer tipo de perda, entretanto ela é mais forte depois da morte de alguém que amamos. O luto não é apenas um sentimento, mas uma série de sentimentos característicos e que levam certo tempo para passar, além de não se poder apressá-los.
Apesar das diferenças entre as pessoas, a ordem em que estes sentimentos aparecem durante o luto é bastante semelhante. A tristeza é o sentimento mais comumente experimentado após a morte de alguém com forte vínculo afetivo. A reação de luto pode ser menor em pessoas que tiveram abortos espontâneos, partos de natimortos ou naquelas que perderam os bebês muito precocemente. Mas mesmo em alguns desses casos, apesar de não terem ainda construído um forte e intenso vínculo afetivo com a pessoa perdida, há sofrimento semelhante ao luto em grau variável e pode também necessitar de atenção.
1. – Dormência Emocional
Em poucas horas após o conhecimento da morte de alguém querido, a maioria das pessoas sente uma espécie de atordoamento emocional, como se não pudesse acreditar que realmente aconteceu. Esse sentimento existe, ainda que em grau geralmente diminuído, mesmo que a morte estivesse sendo esperada. Apesar de fisiológica, essa sensação de irrealidade pode se tornar um problema se durar por muito tempo.
Compreensivamente, se a pessoa emocionalmente dormente se confrontar com o corpo da pessoa falecida poderá começar a ultrapassar esta fase de entorpecimento. Em geral, o enterro ou a cerimônia funerária são ocasiões em que a realidade do que aconteceu realmente começa a firmar-se. De fato, pode ser angustiante ver o corpo ou a assistir ao funeral, mas estas são maneiras de tomar pé da realidade e mentalmente dizer adeus à pessoa querida. Apesar de essas coisas parecerem demasiadamente dolorosas, se não forem realizadas poderão resultar em um sentimento de profundo pesar nos próximos anos.
2. – Inquietação ansiosaLogo, porém, esta dormência emocional desaparece e pode ser substituída por uma terrível sensação de inquietação, de suspiros e sensação de querer ter a pessoa morta de volta, mesmo que isso seja claramente impossível. Essa sensação torna difícil relaxar ou concentrar-se e pode dificultar dormir adequadamente. Os sonhos podem ser extremamente perturbadores.
Nesta fase algumas pessoas sentem vontade de "ver" sua pessoa amada onde quer que estejam - na rua, no parque, ao redor da casa, principalmente nos lugares que passaram juntos. A fase de inquietação ansiosa pode ser dividida em outras sub-fases:
Raiva
Muitas vezes as pessoas sentem raiva nesta fase do luto – principalmente dos médicos, enfermeiros e outros profissionais que não impediram a morte, até de amigos e parentes que não fizeram o suficiente para evitar a morte, ou mesmo da pessoa “deixou-se” morrer.
Culpa
Outro sentimento comum é a culpa. As pessoas reviram mentalmente tudo o que gostariam de ter dito ou feito para a pessoa falecida. Entre o que poderia ter sido feito, algumas pessoas chegam a considerar algumas coisas capazes de ter evitado a morte. A pessoa enlutada pode precisar ser lembrada do fato da morte ser, geralmente, inexorável. A culpa também pode surgir diante da sensação de alívio emocional que se sente depois de alguém morrer, geralmente depois de uma doença crônica, demorada e dolorosa. Este sentimento de alívio é muito natural, extremamente compreensível e comum.
3. – Tristeza ou DepressãoEste estado de agitação é mais forte cerca de duas semanas após a morte, e é geralmente seguida por tristeza ou depressão, reclusão e silêncio. Estas mudanças súbitas de emoção podem parecer confusas para amigos ou parentes, mas são partes da trajetória normal do luto.
Na medida em que a inquietação ansiosa diminui, os períodos de depressão tornam-se mais freqüentes e atingem o seu auge entre quatro e seis semanas mais tarde. Crises de aflição podem ocorrer a qualquer momento, comumente desencadeadas por pessoas, lugares ou alguma coisa capaz de mobilizar lembranças da pessoa morta.
Normalmente as pessoas enlutadas podem surpreender as outras quando, de repente, explodem em lágrimas sem uma razão imediata aparente. Nesta fase, pode ser indicado manter a pessoa em luto afastada de outras que não a compreendem ou compartilham do sofrimento.
Tem sido considerado benéfico tentar voltar às atividades normais após duas semanas. Quando isso não acontece pode aparecer aos outros que a pessoa enlutada passa muito tempo sentada, quieta e sem fazer nada. Essa apatia e desinteresse refletem, na verdade, pensamentos recorrentes sobre a pessoa perdida.
Com o passar do tempo, o sofrimento do luto feroz cede e começa a dissipar-se. Diminuem os sintomas depressivos e a pessoa sente ser possível começar a pensar em outras coisas, a olhar novamente para o futuro. No entanto, a sensação de ter perdido uma parte de si mesmo costuma demorar muito tempo ainda ou nunca desaparecer totalmente.
Estas diferentes fases do luto, muitas vezes se sobrepõem e se mostram de maneiras diferentes em pessoas diferentes. A maioria se recupera de um grande luto dentro de um ou dois anos. A fase final do luto é um "abrir mão" da pessoa que morreu e início de um novo tempo de vida. A depressão pode desaparecer completamente, o sono e a energia voltam ao normal. Sentimentos e funções sexuais podem ter desaparecido por algum tempo, mas voltam nesta fase final.
Mesmo considerando a fisiologia dessas fases do luto, isso não quer dizer que haja um modelo “standard” de luto. As pessoas são diferentes e diferentemente reagem à vida, tanto nos momentos bons como nos sofrimentos.
Também as pessoas de variadas culturas lidam com a morte de maneiras distintas. Desde a pré-história nossos ancestrais vêem lidando de maneiras diferentes com a morte nas mais diferentes épocas e culturas. Ao longo dos séculos as pessoas em diferentes partes do mundo elaboram suas próprias cerimônias para lidar com a morte.
Em algumas comunidades a morte é vista apenas como uma etapa de um ciclo contínuo e não como um 'ponto final' da existência. Os rituais e cerimônias de luto tanto podem ser de natureza pública e demonstrativa, como privados e íntimos. Em algumas culturas o período de luto é fixo, em outras não se reconhece um tempo determinado, mas de qualquer forma os sentimentos vivenciados pelas pessoas enlutadas podem ser semelhantes nas mais diferentes culturas. Não se deve confundir a qualidade desses sentimentos relativos às perdas, muito semelhantes entre os seres humanos, com suas mais diversas formas de expressão.
Luto em CriançasEmbora as crianças não possam compreender o significado da morte antes dos três ou quatro anos, eles podem sentir a perda de parentes próximos da mesma forma que os adultos, podem chorar e sentir uma grande angústia. Porém, em crianças, diferentemente dos adultos, as fases do luto podem transcorrer mais rapidamente. Em idade escolar as crianças podem experimentar o sentimento da culpa mais intensamente, podem se sentir responsáveis pela morte de um parente próximo e, dessa forma, necessitar de uma atenção mais especial.
Os jovens podem não falar ou se queixar de sua dor, com medo de adicionar sofrimentos adicionais aos adultos à sua volta. Assim, um apelo especial se faz sobre o sofrimento das crianças e adolescentes e de suas necessidades diante do luto. Em geral a recomendação psicológica é para que escolares e adolescentes devam ser naturalmente incluídos na cerimônia funeral.
Solidariedade TerapêuticaFamiliares e amigos podem ajudar passando algum tempo com a pessoa enlutada. Nesses casos, não tanto pelas palavras de conforto necessárias, mas sim a presença solidária durante o tempo de sua dor e de sua angústia. Um ombro amigo, compreensivo e mesmo silencioso expressará grande apoio quando as palavras não são suficientes. É importante dar para as pessoas tempo suficiente para se lamentarem.
Ajudar com a limpeza, compras ou cuidar de crianças pode aliviar o fardo inicial de estar sozinho. Idosos enlutados podem precisar de ajuda com as tarefas que o falecido companheiro fazia - lidar com contas, cozinhar, doméstico, ficando o carro à oficina e assim por diante.
Ter alguém do lado é importante quando as pessoas enlutadas sentem vontade de chorar ou falar sobre seus sentimentos de dor e sofrimento. Embora os sentimentos do luto acabem passando com o tempo, antes disso muitas pessoas pesarosas precisam falar e chorar. Quando não se sabe o que dizer para a pessoa enlutada é importante ser honesto e dizer isso para ela. Isto lhe dará a chance dela própria dizer o que quer.
As pessoas muitas vezes deixam de mencionar o nome da pessoa que morreu para a pessoa em luto por medo de que seja perturbador. No entanto, para a pessoa enlutada isso pode parecer que os outros estão se esquecendo de sua perda. Alguns podem achar difícil entender por que a pessoa enlutada quer continuar no mesmo lugar, na mesma casa em que viva com a pessoa querida antes da morte, mas isso é parte do processo de resolução da dor e não deve ser desencorajado.
Também deve ser lembrado que ocasiões comemorativas (não só da morte, mas também aniversários e casamentos) são particularmente dolorosas quando amigos e parentes fazem um esforço especial para estar junto. Nessas ocasiões a pessoa enlutada deve resolver o que será melhor para si.
Existem pessoas que não parecem sofrer tanto e impressionam a todos. São pessoas que não choram no funeral, evitam qualquer menção de sua perda e voltam à sua vida normal com rapidez impressionante. Isso pode não significar falta de sofrimento, mas sim uma forma particular de lidar com perdas e danos, um mecanismo de defesa contra o sofrimento. Algumas pessoas não se permitem lamentar com franqueza seus sentimentos, outras não têm essa oportunidade devido às pesadas exigências de cuidar de uma família ou de uma empresa. Outras pessoas podem manifestar sentimentos mais exuberantemente e até mesmo sofrer estranhos sintomas físicos de origem emocional ou quadros de depressão que se repetem ao longo dos anos seguintes.
Devido as reações vivenciais não-normais (veja na coluna ao lado) alguns enlutados podem começar a desenvolver um luto crônico e persistente. As sensações iniciais de choque e de descrença podem durar anos, com notável dificuldade em acreditar que a pessoa amada está morta. Outros podem continuar incapazes de pensar em outra coisa além da perda, muitas vezes fazendo o quarto da pessoa morta uma espécie de santuário para a sua memória.
A depressão, comum a quase todos os lutos, pode tornar-se muito mais grave, e um sinal disso pode ser quando a comida e a bebida são recusadas, assim como quando pensamentos de suicídio aparecem. Ocasionalmente, noites insones podem continuar por muito tempo e tornar-se um problema sério. Se a depressão continua por muito tempo, fugindo à norma da fisiologia do luto normal, pode haver necessidade de tratamento médico à base de antidepressivos e psicoterapia por algum tempo.
O luto vira o mundo da pessoa de cabeça para baixo e é uma das experiências mais dolorosas. Pode ser estranho, terrível e avassalador. Apesar disto, é uma parte da vida que todas as pessoas estão fadadas e geralmente não requer atenção médica. Entretanto, ao perceber-se agravamento do quadro depressivo, notadamente em pessoas com antecedentes de transtorno afetivo ou do humor, recomenda-se pronta intervenção terapêutica.


para referir:
Ballone GJ - Lidando com o Luto - in. PsiqWeb, Internet - disponível emhttp://www.psiqweb.med.br/,  2010.

sexta-feira, 17 de janeiro de 2014

Quanto à realidade Real

Quanto à realidade Real

Segundo a fé cristã, Jesus foi o único a vencer a morte.
O conceito de morte, interessando a áreas tão diversas como as ciências biológicas, jurídicas, sociais e à religião, está longe de ter um consenso quanto ao momento real de sua ocorrência. Observada do ponto de vista biológico, e atentando-se para o corpo como um todo, a morte não é fato único e instantâneo, antes o resultado de uma série de processos, de uma transição gradual.
Levando-se em consideração as diferentes resistências vitais à privação de oxigênio das células, tecidos, órgãos e sistemas que integram o corpo, pode admitir-se que a morte é um verdadeiro "processo incoativo", que passa por diversos estágios.
Cada campo do conhecimento e cada ramo da medicina acabaram por tomar um momento desse processo, adotando-o como critério definidor de morte. A Medicina Legal teve de adotar uma determinada etapa do citado processo como o seu critério de morte e, para tanto, optou pela etapa da morte clínica.
Até não há muito tempo, uma das grandes questões era poder determinar se uma pessoa realmente estava morta, ou se encontrava em um estado de morte aparente. Tudo isso visando evitar o enterro precipitado, que seria fatal nesta última situação. O fato assumiu tal importância que chegou a influenciar os legisladores, que acabaram por colocar, na legislação adjetiva civil, prazos mínimos para a implementação de certos procedimentos como a necropsia e o sepultamento.
O aparecimento de modernas técnicas de ressuscitação cardiopulmonar e de manutenção artificial de algumas funções vitais, como a respiração - respiradores mecânicos, oxigenadores - e a circulação - bomba de circulação extracorpórea -, mesmo na vigência da perda total e irreversível da atividade encefálica, criou a necessidade de rever os critérios definição de morte.
Atividade neurológica
A atividade neurológica é a única das funções vitais que, até o presente momento, não teve condições, em que pesem os avanços tecnológicos, de ser suplementada nem de ter suas funções mantidas por qualquer meio artificial. Daí que a sua irrecuperabilidade ou a sua extinção possam ser considerados sinônimos da própria extinção da vida.
Mas é a nível neurológico que ocorrem os mais variados e sutis estados intermediários entre a vida e a morte, denominados "estados fronteiriços".
Alguns desses "estados fronteiriços" se encontram mais próximos da morte, como os "comas ultrapassados" (carus ou "coma dépassé"), com desaparecimento da vida de relação e, mesmo com conservação da vida vegetativa, se tornam crônicos ou irreversíveis. Outras formas, por outro lado, encontram-se mais próximas da vida, como os denominados estados de "morte aparente".

Aparente

A morte aparente pode ser definida como um estado transitório em que as funções vitais "aparentemente" são abolidas, em consequências de uma doença ou entidade mórbida que simula a morte. Nesses casos, que também podem ser provocados por acidentes ou pelo uso abusivo de substâncias depressoras do sistema nervoso central (SNC), a temperatura corporal pode cair sensivelmente e ocorre um rebaixamento das funções cardiorrespiratórias de tal envergadura que oferecem, ao simples exame clínico, a aparência de morte real.
É inconteste que, nesse quadro, a vida continua sem que, contudo, se manifestem sinais externos: os batimentos cardíacos são imperceptíveis, os movimentos respiratórios praticamente não são apreciáveis, ao tempo que inexistem elementos de motricidade e de sensibilidade cutânea.
Assim, a denominada tríade de Thoinot define, clinicamente, o estado de morte aparente:
  • imobilidade,
  • ausência aparente da respiração e
  • ausência de circulação.
A duração desse estado foi um dos elementos que mais aguçaram a curiosidade dos pesquisadores. Historicamente, surgiram opiniões das mais díspares, indo desde alguns minutos até dias de morte aparente.
Sincopal
É a mais frequente das causas, resultando, em geral, de uma perturbação cardiovascular central ou periférica, bem como por perturbação encefálica ou metabólica.
Histérica (letargia e catalepsia)
As crises histéricas ocupam o segundo lugar em frequência na produção de estados de morte aparente. O termo genérico letargia designa todos os estados de torpor de longa duração, acompanhados de perda de movimentos,sensibilidade e consciência, que podem ser confundidos com a morte real.
Asfíctica
É também uma das causas assaz frequentes de morte aparente. Manifesta-se sob duas formas:
  1. mecânica: quer com via aérea livre, quer com a via obstruída, e
  2. não mecânica: asfixia de utilização ou histótóxica (absorção de CO, cianuretos e venenos metemoglobinizantes).
Tóxica
Compreenda a anestesia e a utilização de morfina ou outros alcalóides do ópio (heroína) em doses tóxicas.
Apoplética
É causada pela congestão (ingurgitação) e hemorragia no território de uma artéria encefálica (em geral, a lentículo-estriatal). É mais frequente em pacientes com antecedentes de hipertensão arterial essencial, mas também pode observar-se em outros quadros.
Traumática
Que ocorre em casos em que se produzem outros efeitos gerais simultâneos, como:
  • Elétrica (por eletropressão ou fulguração)
Pode observar-se nos atingidos por descargas de eletricidade comercial e que sobrevivem, quedando em um estado de morte aparente. Pode ser vista também em pessoas afetadas pela indução de descargas de eletricidade natural (queroaurância) - fulguração - em uma área de 30 a 60 m de diâmetro, em torno do ponto da faísca.
  • Térmica (termopatias e eriopatias)
A morte aparente, nesses casos, sobrevém quando falham os mecanismos de regulação da temperatura corporal decorrente de um desequilíbrio no nível de combustão intra-orgânica. As termopatias ocorrem nos casos de "golpes de calor" hipertérmicos ou de hiperirexia, com retenção calórica. É uma ocorrência mais frequente no verão ou em regiões com altas temperaturas e elevada taxa de umidade relativa ambiente, em pessoas com patologias preexistentes ou sem elas, idosos e crianças, mais sensíveis ao calor.
  • Criopatia
A morte aparente por criopatia ocorre quando há hipotermia global aguda. Observa-se, com frequência, em ébrios que dormem ao relento nos quais a vasodilatação periférica aumenta a perda calórica, facilitando a hiportermia. também nas crianças desabrigadas na época invernal; nos acidentes com queda das vítimas ao mar (pilotos, náufragos); e até por causas iatrogênicas (transfusões de sangue frio). O estado de morte aparente pode instalar-se quando a temperatura central chegue abaixo dos 32 °C.
Causas gerais
A morte aparente pode observar-se em algumas formas terminais de cólera, na eclâmpsia durante o período comatoso, e em alguns casos de epilepsia.

Quanto à rapidez

Morte rápida

Denomina-se morte rápida ou súbita aquela que, pela brevidade de instalação do processo - em questão de segundos - não possibilita que seja realizada uma pesquisa profunda e uma observação acurada dos sintomas clínicos, hábil a ensejar um diagnóstico com certeza e segurança, nem poder instituir um tratamento adequado, e muitas vezes, sequer elidir se houve ou não violência.

Morte lenta

Recebe o nome de morte lenta ou agônica aquela que, em geral, vem de maneira esperada, devagar, significando a culminação de um estado mórbido, isto é, de uma doença ou da evolução de um tratamento.
Afora as características e dados que eventualmente aflorem do exame perinecroscópico, alguns dos quais podem apontar para morte rápida - e.g. espasmo cadavérico - outros também podem orientar no sentido de uma morte lenta, demorada, ponto final de uma longa agonia, tal o caso da emaciação, da caquexia, da presença de extensas escaras de apoio, entre outros exemplos.