domingo, 25 de maio de 2014

PERDA DE UM ENTE QUERIDO



 A dor causada pela perda dos entes queridos atinge a todos nós com a mesma intensidade. É a lei da vida, a que estamos sujeitos. Quando nascemos, nossa única certeza absoluta no transcorrer da vida será a de que um dia morreremos. Não há como fugir a esta realidade. A morte não faz parte de nossas preocupações imediatas. Vamos levando a vida sem pensarmos que um dia morreremos, aí, quando menos esperamos, ela nos bate à porta arrebatando-nos um ser amado e então, sentimo-nos impotentes diante dela e o pensamento de que ”nunca mais a verei”, aumenta mais nossa dor. 
Algumas pessoas sentem com maior intensidade a perda do ente querido, demorando a se recuperar da dor pela partida. Principalmente, se a morte ocorreu repentinamente, de uma forma brusca, como acontece em desastres ou através da violência.  
Com a perda, vem a tristeza e a revolta. Então, vem a procura, a busca de um consolo que possa realmente acalmar e levar um pouco de tranqüilidade ao espírito, e vem a indagação que tanta angústia traz ao coração: “Onde poderá estar agora? Só queria saber se ele(a) está bem, como se sente.”. Começa, então, a procura por notícias, o afã de saber o paradeiro daquele que se foi para nunca mais, segundo a visão acanhada que se tem de “vida” e de “morte”. A possibilidade da comunicação com o ser querido leva muitas pessoas a desejarem, a todo custo, uma mensagem, uma palavra que possa proporcionar-lhes a aceitação do ocorrido ou que lhes minore a enorme saudade que sentem. A mediunidade não deve ser encarada como um dom nosso, e sim, um dom, a nós, dado por Deus, uma ferramenta de trabalho em benefício não só do próximo como do próprio médium, pois se bem utilizada é uma ponte para a evolução de nosso ser. A desencarnação requer um período de adaptação ao mundo espiritual a que o espírito se submete com a ajuda de amigos espirituais abnegados. E se ele estiver ainda no estágio de adaptação, tais comunicações poderão mostrar-se inadequadas para o momento que ele atravessa, portanto, requerendo um período bem maior para que possa realizar-se com mais eficácia. Muitas vezes, os espíritos dos entes queridos vêm nos visitar e nós não damos por isso, ou mesmo, durante o sono, nosso espírito vai se encontrar com o dele(a), vai visitá-lo, e não guardamos lembrança de nada, a não ser uma saudade, uma lembrança dele que não sabemos nem porque nos vem tão repentinamente.
Sabemos através dos ensinamentos espirituais,  que todos nós ao fecharmos nossos olhos para a vida material e nos transferirmos para a vida espiritual, ficaremos num sono, numa espécie de torpor, recebendo todo o amparo e ajuda de equipes espirituais para nos desfazermos das vibrações materiais com maior rapidez. Então, esse período para o espírito é de fundamental importância, requer daqueles que ficaram, o amparo da prece e de vibrações de amor e de que seus sofrimentos não ultrapassem aquele da saudade, sem extrapolar para a revolta com os desígnios de Deus. 
Mas, esses irmãos não ficam sozinhos nunca. É preciso que saibamos disso: os espíritos responsáveis por eles estão junto esperando que as vibrações materiais mais grosseiras se desfaçam, cuidando com todo o carinho para que eles possam se adaptar ao novo estado.
Abra o seu Coração para DEUS, apenas Ele poderá te ajudar... A saudade é grande, mas deve-se pensar que esteja onde estiver, estará bem, melhor que aqui, e ao lado de DEUS nosso Pai!!!
COM CARINHO 
  
FERNANDA ZUCCHI

Criado por Lean, Chrystian Sales
Lidar com a morte nunca é algo fácil e, não importa o quanto nos preparemos, é sempre um momento emotivo e triste. Para lhe ajudar a se preparar para a perda, seguem alguns conselhos.


  1. 1
    Assegure-se de que todos na família saibam que o ente querido partirá logo.Fazê-lo lhes permitirá dar uma despedida adequada à pessoa amada.
  2. 2
    Sente-se e converse com o seu ente querido tanto quanto possível. Se você tem arrependimentos, ou precisa dizer algo que foi guardado por anos, use esse momento para fazê-lo. Lembre-se, no entanto, que caso se trate de algo muito grande (você esteve traindo essa pessoa por 15 anos), pode ser melhor deixar isso de lado. Você não quererá causar ainda mais estresse do que o que já existe.
  3. 3
    Permita que as crianças da família visitem ao ente querido e explique-lhes o que irá acontecer em breve.
  4. 4
    Mantenha atualizados os familiares distantes a respeito da saúde de sua pessoa amada. Comunique-se por e-mail, telefone ou por uma rede social.
  5. 5
    Converse com a sua pessoa amada sobre a morte. Pergunte-lhe se sente medo. Você poderá sentir paz quando a pessoa se for, sabendo que não havia qualquer medo ou preocupação. E, ainda, se o seu ente querido se sentir preocupado, ajude-o a aceitar os seus medos e entrar em acordo com eles.
  6. 6
    Comece a fazer os preparativos para funeral e enterro. No entanto, a menos que o seu ente querido pergunte a respeito, não comente nada sobre o tema. Ele poderá pensar que você deseja “apressar as coisas”.
  7. 7
    Diga à sua pessoa amada que você sentirá sua falta e diga “Eu te amo” frequentemente. Nada é mais importante do que essas três palavras.
  8. 8
    Diga ao seu ente querido se você se sente assustado, confuso ou triste. Ele lhe poderá dizer algumas coisas que acalmarão a sua mente e lhe ajudarão a lidar com o processo.
  9. 9
    Daqui a alguns anos, poderão ser as pequenas coisas as que importam, como sua cor favorita, sua sobremesa preferida, etc. Guarde essas memórias!
  10. 10
    Tenha a certeza de dizer tudo o que deseja dizer. Quando o seu ente querido partir, ele se foi e você não o pode trazer de volta.
  11. 11
    Reúna membros da família em uma sala e converse sobre os velhos tempos com eles. Todos terão aquela memória da pessoa amada sorrindo e demonstrando contentamento, ou apenas ouvindo e lembrando-se de todos os bons momentos. Será uma memória pacífica olhar também para trás: a pessoa estava rodeada pela família, cujo amor permeava o seu redor — e o que pode ser melhor do que ter a sua família lá, quando mais precisou dela?
  12. 12
    Tome as suas direções de seu ente querido— algumas pessoas preferem conversar sobre morte, planos fúnebres, etc., enquanto outros preferem não fazê-lo. Não assuma que você sabe tudo de que eles necessitam — PERGUNTE. Esse não é o momento para adivinhações!
  13. 13
    Chorar é normal, e é melhor soltar para fora do que reprimir as emoções.Quando as lágrimas vierem, deixe-as partir.
  14. 14
    Avalie as alternativas do cuidado em casa, em um hospício, em um asilo ou em um hospital. Pergunte à pessoa amada qual alternativa lhe parece mais atraente e faça o possível para acomodar seus desejos. Lembre-se que custos e níveis de cuidado serão diferentes em cada opção e devem ser explorados em maior detalhe antes de se tomar uma decisão importante.
  • Chore com os seus filhos e converse a respeito da pessoa falecida. Demonstra às suas crianças que você nunca se esquecerá dela e que é bom chorar, expressar raiva ou sentimentos como angústia. Lembre-se que as pessoas lidam com o luto de formas diferentes.
  • Saiba que não foi culpa sua.
  • Respeite os desejos — se o filho deseja ir ao funeral ou visitar o túmulo ou não. Não se sinta ofendido e não o force a fazê-lo se não se sente confortável.
  • Guarde aquilo que for difícil de ver agora, logo após o falecimento de seu ente querido. Um par de chinelos, uma gravata, mesmo sua caneta preferida... Guarde-os até que você se sinta preparado para lidar com eles, mas mantenha sua memória viva com você.
  • Se você planeja plantar um jardim ou árvore em seu quintal, como memória de sua pessoa amada, diga a ela antes que ela parta.
  • Você pode fazer um livro de memórias de seu ente querido, especialmente para crianças pequenas, com fotos, textos, objetos de recordação, frases que ele sempre dizia, receitas especiais, etc. para sempre manter sua memória viva.
  • Não diga que a pessoa foi embora ou está dormindo. Isso pode fazer com que seus filhos tenham medo de ir para a cama ou fazê-los pensar que ela saiu para uma caminhada ou viajou de férias, sendo que eles não foram. Nunca minta, pois fazê-lo ou se utilizar de muitos eufemismos pode causar ressentimentos ou desconfiança por parte de seus filhos. Sempre seja honesto — a honestidade é sempre a melhor política (mas converse de acordo com a idade).
  • Ame-os com todo o seu coração e faça-os saber disso.
  • Não negligencie os outros. Lembre-se que eles estão passando pelo mesmo processo que você. Invista tempo com seus amigos e sua família e expresse os seus sentimentos para um animal de estimação ou amigo próximo. Ouça aos outros quando recorrerem a você. Todos têm o direito de se abrir; especialmente em uma crise emocional como o processo de morte. Vá para um parque ou jantar ou apenas saia com alguns amigos e parentes e relaxe por um momento.
  • Seja honesto com seus filhos e netos, mas use respostas apropriadas à idade deles. Por exemplo, o seu neto é muito jovem e pergunta “como o vovô morreu?” Você poderia dizer que “o vovô tinha um probleminha na cabeça dele, e não melhorava, e aí o corpo do vovô parou de funcionar, e ele morreu e está descansando agora em um lugar muito especial”. Quando a criança tiver idade suficiente para entender, você pode dizer que aquele probleminha era, na verdade, um tumor cerebral, e o nome do lugar especial onde ele descansa (você pode dizer a ela onde o túmulo se encontra) e como o vovô lhe amava.
  • Não diga que a criança é mórbida — nunca fale coisas como essa! Se ela perguntar o que acontece depois que uma pessoa morre, seja honesto e diga que o corpo é enterrado e, então, passa por um processo chamado decomposição, em que o corpo apodrece e se transforma em um esqueleto. Se a criança perguntar o que é a cremação, você pode dizer que o corpo é queimado de uma forma especial em um calor muito alto, até se transformar em cinzas.
  • Não trate a morte levianamente; não tente empolgar as pessoas caçoando delas.
  • Não critique aqueles que choram ou demonstram seu luto ou aquele que está doente. Isso é muito desrespeitoso. Esse é um tempo solene. Demonstre respeito.
  • Não converse demais. Tente ser receptivo às necessidades da pessoa. Às vezes, uma pessoa próxima à morte não deseja conversar ou mesmo escutar aos outros conversando. Apenas esteja lá para ela, em um silêncio mútuo. Esse pode ser um tempo muito espiritual.

Sobre o medo da Morte

Sobre o medo da morte


:: Silvia Malamud :: 
Desde o início dos tempos, a questão da morte e da finitude muitas vezes acaba por alterar a tranqüilidade e o prazer de existir, freqüentemente sendo substituída por fluxos de pavor e mesmo de desorganização psíquica.
As perguntas que ficam em relação ao tema permeiam questões sobre o desconhecido, sobre a própria finitude, sobre a razão da vida, sobre o que é transcendente.

Ao longo de nossas vidas, inúmeras são as vezes na qual vivenciamos ciclos emocionais repetitivos. Isso se deve ao fato de que "lá", quando ainda éramos crianças e com os recursos e conhecimentos limitados que pode ter uma criança, entendíamos que nos manifestando com determinados padrões de comportamento na certa seria o melhor para sobrevivermos a situações conflitantes.

Ocorre que com o desenvolvimento que vem através da linha do tempo e com as novas oportunidades que a vida nos oferece, gradativamente podemos perceber que o que foi entendido pela nossa criança daquele tempo, pode ser totalmente redimensionado, abrindo espaço para novos conhecimentos sobre nós mesmos, bem como sobre as nossas relações para com a vida. Infelizmente, porém, não é sempre que este tipo de transformação saudável acontece.

Infinitas são as vezes quando caminhamos rumo a novas experiências, porém ainda fixados em referências antigas que de nada nos servem para as dinâmicas das nossas atualidades individuais e únicas. Talvez por questões traumáticas, pelo medo excessivo ou pelo grau de fixação de prazer distorcido, advindo de respostas da infância, torna-se possível a indefinida perpetuação numa situação de realidade onde já não há mais validade alguma para a atual consciência evoluída. Neste sentido, existe uma emergência silenciosa de se sair desta espécie de bolha.

Note que ao nos perpetuarmos neste ciclo vicioso, sem que percebamos, acabamos por interromper a plena vivência de aspectos fundamentais das nossas existências. Por consequência, grande parte da energia que possuímos fica represada de modo circular, gerando um tipo de hipnotismo que literalmente impede o mergulho numa realidade mais profunda do existir.

Por vezes, num engano atroz e por medo do desconhecido que representa sair da "bolha" e de se atirar no mundo da realidade, pessoas e mais pessoas acabam por se perpetuar nas mesmas questões emocionais, vagueando como sonâmbulas, mudando os cenários vivenciais, mas não as questões emocionais envolvidas; permanecendo num local em que nada se recicla.
É exatamente nesta situação que a vida não acontece.

O medo de morrer, neste sentido, ocorre quando a pessoa sente que ficou em dívida consigo mesma, com a sua própria vida. Deixando de lidar com o mundo da realidade, com as alegrias e com as frustrações inerentes a todo aquele que efetivamente está vivo.

Quem deixa de vivenciar aspectos fundamentais de sua própria vida, pode ter um medo da morte cristalizado. É freqüente a pessoa saber que tem uma conta a pagar a si mesma e, quer seja pela falta de coragem ou pela falta de iniciativa, sente que não aconteceu a renovação do que já estaria morto.

A grande questão é a de se nutrir de coragem e por vezes pedir auxílio quando se fica mais consciente deste processo de sair da bolha conhecida que se manteve anos a fio selada em meio a um montante de ilusões, sonhos de realização, idealizações e medos.

Nesta situação, para que efetivamente ocorra uma ruptura e, por conseqüência, uma transformação de vida, o "Eu" deve estar suficientemente fortalecido para que se possa comandar com total força transformadora toda essa mudança paradigmática.

Observem que a questão da morte, da finitude, é um assunto que sempre interessa. Os sentimentos envolvidos podem ocorrer em um rompimento afetivo, na perda de um animal de estimação, de pessoas próximas e mesmo no vislumbre da nossa própria morte. É lógico que o processo de desligamento seja muitas vezes complicado. Existem inúmeras questões envolvidas. Aqui, falo da plenitude da vida para que possamos de algum modo alcançar o que nos espera na condição de humanos que somos de modo mais autoconsciente e lúcido.

Tendo a absoluta certeza de que as nossas existências estão validadas! 

E, para finalizar, como ocorre no efeito bolha, voltamos ao tema...
Imagine um ator que não queira abandonar um papel no qual esteja atuando e o personagem acabe assumindo o controle sobre o ator (consciência encarnada), para esse personagem seria a morte. Penso que romper a "bolha" faça parte do caminho da nossa iluminação. Esse tipo de passagem nem sempre é simples ou fácil a princípio... Depois que se toma consciência da dimensão do drama/bolha em que se está inserido é que efetivamente começa-se a sair dele.
É quando nos tornamos incorruptíveis no caminho de volta, pelo fato da autoconsciência adquirida. Na seqüência, nos encaminhamos a perceber que essas mesmas dimensões/bolhas se tornarão apenas imagens, depois memórias distantes e, logo após, alcançamos o status de se ficar totalmente desidentificados com o antigo lugar. É neste momento que a vida começa por ficar totalmente dinamizada de outro modo.

Nesse palco terreno, todos somos protagonistas, elegemos os antagonistas com os quais lutaremos e, nessa épica luta individual, almejamos sair vitoriosos e por vezes a vitória consiste em apenas abandonar um ciclo que se repetia e que não levava a lugar nenhum.
Penso que a vida deveria ser encarada mais esportivamente, aprendendo a dar valor tanto às derrotas quanto às vitórias.

Esse tema sobre vidas não vividas também é muito oportuno, porque vejo isso o tempo todo em muitas pessoas, sendo que essa cobrança sobre sonhos e projetos não realizados é muito comum. Também vejo pessoas que, para fugir dessa frustração, dizem viver só o momento presente, abrem mão de projetos e sonhos para não ter que enfrentar possíveis derrotas.
A filosofia poderia ser: "Deixe a vida me levar, mas que eu tenha o leme em minhas mãos".

segunda-feira, 5 de maio de 2014

O MOMENTO DA MORTE

Drauzio Varella

A morte acontece num instante arbitrário que depende da cultura e da tecnologia disponível. Definir um momento exato para a ocorrência da morte não é conceito indiscutível, mas preocupação característica da cultura ocidental.
Os funerais gregos e egípcios, por exemplo, sugerem que a morte seria uma fase de transição, jamais um instante definido como a imaginamos nós. Na civilização cristã, a idéia de transição foi substituída pela imagem do último suspiro de Jesus Cristo martirizado na cruz, símbolo máximo da passagem deste mundo para outro melhor.
Por milhões de anos, foi fácil para os médicos diagnosticar morte: bastava verificar se o doente respirava. Mortos estariam os ineptos a essa função fisiológica essencial, a única da qual o corpo humano não pode prescindir por mais do que uns poucos minutos.
De fato, privado de oxigênio por quatro ou cinco minutos, nosso cérebro costuma sofrer danos irreversíveis. Mas outros órgãos são bem mais resistentes à anóxia. O coração é um deles – capaz de bater por muitos minutos depois que a última molécula de oxigênio fugiu dos pulmões e até fora do corpo quando retirado cirurgicamente.
Estabelecer critérios para caracterizar a morte se tornou necessário a partir do aparecimento dos primeiros aparelhos de ventilação mecânica, que permitiram manter vivas pessoas incapazes de respirar por conta própria. Essa necessidade se tornou mais premente com o advento dos transplantes de órgãos na década de 1960.
Discuto essas ideias menos por pretensões filosóficas do que motivado pela leitura de um artigo de E. Wijdicks, neurologista da Mayo Clinic, “O Diagnóstico de Morte Cerebral”. O autor resume a evolução dos critérios adotados para o diagnóstico de morte cerebral a partir de 1959, quando Mollaret e Goulon introduziram o termo “coma dépassé” — o coma irreversível.
Os dois médicos franceses caracterizaram essa condição com base no estudo de 23 pacientes em coma que haviam perdido a consciência, todos os reflexos do tronco cerebral e a capacidade de respirar sem aparelhos e que apresentavam eletroencefalogramas em linha reta, característicos da ausência de ondas cerebrais.
Reavaliações dos critérios de morte cerebral foram mais tarde realizadas por um comitê da Universidade Harvard (1968) e por uma conferência do Medical Royal Colleges (1976), da Inglaterra. Ficou, então, estabelecido o consenso de que a morte deveria ser definida como “a perda completa e irreversível das funções do tronco cerebral”. A definição considerava o tronco como o epicentro das funções cerebrais humanas, porque sem ele o organismo perde a capacidade cognitiva e a possibilidade de fazer movimentos voluntários ou reagir a estímulos do ambiente. Sem atividade no tronco cerebral, a vida humana podia ser considerada extinta.
Mesmo na ausência de um tronco cerebral em funcionamento, o coração continua a repetir suas sístoles e diástoles, garantindo acesso de oxigênio ao resto do organismo para as atividades inerentes à vida vegetativa.
Em 1995, a Academia Americana de Neurologia conduziu uma revisão a respeito das dificuldades para diagnosticar a morte e adotou os seguintes princípios: “A declaração de morte cerebral requer não apenas uma série de testes neurológicos cuidadosos, mas também o esclarecimento das causas do coma, a certeza de sua irreversibilidade, a resolução de qualquer dúvida em relação aos sinais neurológicos clínicos, o reconhecimento de possíveis fatores conflitantes, a interpretação dos achados de neuroimagem e a realização dos exames laboratoriais necessários”.
Da diversidade de resistência à falta de oxigênio que os diferentes tecidos do organismo apresentam, resulta que a morte é fenômeno de alta complexidade. Não está restrita aos limites do último suspiro, como o cinema e a arte dramática nos fizeram crer. Não apenas o coração continua a bater dentro do peito, mas as unhas e os cabelos crescem, as células do revestimento interno do aparelho digestivo e da pele ainda se multiplicam e muitos hormônios, enzimas e proteínas são produzidos por minutos e até horas depois do instante que se convencionou chamar de morte.
Essa definição de morte, baseada na ausência de atividade do tronco cerebral, é prática, porém arbitrária. Pode até ser interpretada de forma contraditória. Por exemplo, aceitamos que um garoto de 18 anos atropelado seja doador de órgãos ao demonstrarmos que seu tronco cerebral está inativo, mas ficamos chocados quando uma gravidez é interrompida voluntariamente na oitava semana, fase em que não existe a menor chance de atividade cerebral coordenada no embrião.
Com a descoberta dos aparelhos de ventilação pulmonar, o conceito de morte evoluiu do último suspiro para uma hierarquia de valores na qual certas atividades do sistema nervoso central valem mais do que todas as outras do organismo. São atividades essenciais para caracterizar a condição humana. Na ausência delas, admitimos extinta a vida, mesmo que os outros órgãos continuem saudáveis.
Ao considerar a morte como passagem, os gregos e os egípcios talvez não fossem tão ingênuos