terça-feira, 15 de abril de 2014

Estudiosos investigam psicologia associada a morte, luto e superação

Publicado em ComportamentoUSP Online Destaque por Denis Pacheco 


Luto pode se converter em sentimento coletivo quando muitas vidas são afetadas em uma tragédia | Foto: Marcos Santos / USP Imagens
É atribuída ao francês Gustave Flaubert, autor do romance “Madame Bovary”, a máxima de que a morte pode ter mais segredos para nos revelar do que a vida. É com o foco neste pensamento que os pesquisadores do Laboratório de Estudos sobre a Morte, do Instituto de Psicologia (IP) da USP, investigam o imaginário no entorno daquela que é considerada a única certeza da existência.
À frente do LEM está a professora Maria Júlia Kovács, que coordena o laboratório e cuja formação no campo da psicologia está centrada em torno da morte desde sua dissertação de mestrado, defendida em 1985 na Universidade de São Paulo. “Fundamos o LEM em 2000, mas já realizávamos projetos e trabalhos em hospitais com profissionais de saúde”, conta Maria Júlia. “O interesse pelo tema começou como questão pessoal e se transformou em objeto de estudo. Temos disciplinas na graduação e na pós, além de ministrarmos cursos conforme pedido de instituições de saúde e educação”.
Dentre os objetivos do LEM, a professora destaca além dos estudos essenciais sobre atitudes frente à morte e ao luto no ocidente, como se dá a visão da morte em diferentes contextos e em diferentes fases do desenvolvimento. Além disso, o Laboratório também se propõe a expandir os horizontes do tema na formação dos profissionais de saúde e educação. Lidar com o luto é, além de uma prática que deve ser desenvolvida pelos que atuam nessas áreas, mas também uma ramificação do objeto central de estudos do grupo.
Podendo afetar não apenas o indivíduo, mas a sociedade como um todo, o luto é foco de constante investigação por parte dos membros do Laboratório. Neste ano de 2013, o Brasil passa coletivamente pela experiência traumática. O incêndio na boate Kiss, em Santa Maria, região central do Rio Grande do Sul, deixou 238 mortos na madrugada do dia 27 de janeiro, provocando comoção nacional.
“Uma situação como a que ocorreu em Santa Maria nos ensina muita coisa, infelizmente de uma maneira que é muito contundente e dolorosa”, reflete a professora. “O luto é das famílias que perderam seus filhos, dos amigos que perderam amigos e dos namorados que perderam seus amores queridos. [Mas também] É um luto coletivo porque foram muitos os mortos no mesmo evento. Temos que aprender como cuidar dos sobreviventes e como atuar em tragédias como esta”, revela ao remeter a um dos principais objetivos do LEM, que é o de promover o preparo dos profissionais e familiares que irão lidar com diretamente com as consequências de tragédias.

Falando de Morte

Criado em 1997, o projeto “Falando de Morte” consiste numa série de DVDs criados especificamente para facilitar a comunicação sobre o tema da morte. Segmentados inicialmente para faixas etária distintas, os filmes tinham como principal objetivo desmistificar a morte.
Foto: Wikimedia
Para as crianças, mostrando as pequenas perdas, a morte de um bichinho de estimação, a morte de uma pessoa querida e a morte de si mesma. Para os adolescentes, trabalhar os sentimentos que surgem da perda assim como a própria perplexidade diante da morte. E finalmente, para os idosos, o vídeo tinha com missão debater os sentimentos que envolvem o ser humano diante da velhice assim como apontar caminhos que facilitam as relações entre o idoso e a sociedade.
Após estas bem sucedidas empreitadas, um quarto filme foi lançado destinando-se aos profissionais que cuidam do sofrimento alheio, mas não têm espaço para cuidar da sua própria dor. “Em 2012 lançamos – Falando De Morte Na Escola – (os vídeos) foram criados com a proposta de sensibilização e facilitação da comunicação sobre o tema da morte. Eles pretendem, ser um disparador de discussões e não a palavra final, nem receitas sobre como abordar o tema”, esclarece Maria Júlia.

Colaboração

Para os estudantes que tem interesse no tema, o LEM oferece diversas oportunidades para aproximação. “Os alunos podem participar do LEM pelas disciplinas de graduação, pós, iniciação científica ou pelos eventos que organizamos”, conta a professora. “Temos tido uma procura significativa dos alunos”, destaca.
Programada para maio de 2013, a Jornada do Laboratório de Estudos sobre a Morte tratará do tema “Suicídio”. Com o objetivo de atrair pesquisadores e interessados em debater o assunto polêmico, o tema foi escolhido por permear discussões nas mais diversas áreas do conhecimento, assim como nas esferas legais e, principalmente, no íntimo de cada um de nós.
Cientes de que não poderão desvendar os enigmas que cercam o que acontece após o encerramento de uma vida, os estudiosos do LEM travam pequenas, mas significativas batalhas com o objetivo de compreender a dor e as ramificações dos vivos diante da morte inescapável.
Mais informações: site http://www.lemipusp.com.br, email lem@usp.br ou mjkoarag@usp.br, com a professora Maria Júlia Kovács

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